Junto com os preços da gasolina e do diesel nas bombas, mais caros desde a manhã de sábado, sobe também a pressão do governo e do Centrão contra a direção da Petrobras. Dois dias depois de ser ignorado ao pedir um congelamento de preços, Jair Bolsonaro (PL) afirmou no sábado que há condições de a Câmara dos Deputados abrir já nesta segunda-feira uma CPI para investigar a Petrobras, estatal controlada pelo governo. Nesta manhã, o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, pediu demissão do cargo.
Preocupado com o impacto negativo da alta dos preços dos combustíveis em sua tentativa de permanecer no poder, Bolsonaro prometeu que o governo "vai para dentro da Petrobras". Segundo ele, o reajuste de 5,18% na gasolina e 14,26% no diesel nas refinarias "é traição".
"É inadmissível, com uma crise mundial, a Petrobras se gabar dos lucros que tem. Só no primeiro trimestre foram R$ 44 bilhões, lucro nunca antes visto", criticou o presidente, emendando que "ninguém quer interferir nos preços, mas esse lucro abusivo a diretoria e seus conselheiros poderiam resolver".
Entenda
Desde 2016, a Petrobras trabalha com a chamada PPI, que é a política de paridade de preços internacionais. Isso acontece porque é preciso importar combustíveis para suprir a demanda interna. Na prática, reajustes como o do fim de semana são resultado das oscilações dos preços do petróleo no mercado internacional e do câmbio.
Apesar das críticas ao lucro da Petrobras, o governo está entre os maiores beneficiários do resultado financeiro da petroleira. Nesta segunda, a União receberá mais uma parcela de R$ 8,8 bilhões do lucro da estatal. Entre 2019 e 2021 a União já embolsou R$ 34,4 bilhões em dividendos. Somando impostos e royalties, o valor salta para R$ 447 bilhões.
Os especialistas sugerem que o governo deve usar ao menos parte deste dinheiro com alguma medida para amortecer os impactos do PPI não somente sobre a gasolina e o diesel, mas também sobre o gás de cozinha. "O lucro deve servir para isso", defende o consultor Raul Velloso.
Com o reajuste autorizado na sexta-feira pela Petrobras, o litro da gasolina comum ficou, em média, 20 centavos mais caro neste fim de semana em Novo Hamburgo. Ontem à tarde o Jornal NH pesquisou oito postos de diferentes bandeiras. O litro da gasolina comum variava entre R$ 6,69 e R$ 6,85. Na sexta, o valor mais baixo era de R$ 6,49. Já o diesel S10 chegava ontem a R$ 7,10 em três dos oito postos pesquisados. Apesar da alta, o litro da gasolina na cidade segue mais baixo que em Porto Alegre, por exemplo. No sábado havia postos vendendo a comum a R$ 7,09 o litro na capital.
Presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Caminhoneiros, o deputado federal gaúcho Nereu Crispim (PSD) está empenhado em incluir na pauta da Câmara para os próximos
dias a votação do projeto de lei 750/21, que cria o fundo de estabilização dos preços dos derivados do petróleo, tendo como fonte a arrecadação do imposto de exportação do petróleo bruto. Das 171 assinaturas necessárias, ele já conta com 129. A taxação das exportações de petróleo está no radar da Câmara. Além do projeto de Crispim, outro sugere que a
arrecadação seja utilizada para subsidiar o diesel.