A Polícia Civil descobriu e apreendeu, na tarde desta segunda-feira (25), um terceiro carro envolvido na perseguição, tiros e quebra-quebra na frente da casa onde um bebê era amamentado e morreu, na madrugada de domingo (24), em Sapiranga. A família do menino de oito dias, que estava na sala, nada tinha a ver com o conflito. Ele teria morrido em razão do estresse gerado pela confusão na rua. Outro fato que veio à tona é que a briga começou por rixa entre mulheres e recrudesceu pela batida de um automóvel em outro estacionado.
“Fica perto do local dos fatos. Na porta do lado do motorista havia danos com a cor do Gol”, comenta o delegado de Sapiranga, Fernando Pires Branco. O proprietário é um dos dez que chegaram a ser detidos no conflito. Tinha conseguido esconder o Focus.
Xingamentos
A batida de arrastão aconteceu na frente um bar na Avenida Mauá, no Centro, por volta de 1h30. “O pessoal do Gol chegou e duas mulheres desceram para usar o banheiro do tele-ceva. Não se davam com mulheres do grupo maior, do Meriva e do Focus, e começaram a se xingar. Quando o Gol foi embora, arrancou e bateu no Focus. Isso desencadeou a perseguição”, relata o delegado.
Foram aproximadamente três quilômetros até trecho sem saída da Rua Melissa, no Centenário. Os carros fizeram a volta e pararam na frente da casa da família Santos.
Casal temia invasão da residência
A comerciária Luana, 23 anos, amamentava o pequeno Arthur na sala, ao lado do marido, o industriário Alan dos Santos, 26. “De repente começam tiros na rua, muito perto, com gritos e ameaças como 'vou te matar'. Quebravam vidros. Foi um caos. Imagina ser surpreendido assim pela 1 hora da madrugada. Pensei que queriam invadir e fui aos fundos para monitorar a situação. Pedi para minha esposa ficar ali, que eu ia atrás de ajuda. Ela ficou com o Arthur nos braços na sala. Essas pessoas na rua estavam fora de si. Tive muito medo de um arrastão”, relata o pai.
O Gol era depredado pelos rivais quando chegou a Brigada Militar. Os perseguidos tinham corrido para o mato. “A situação se acalmou, notei que estava mais seguro e voltei para a sala. Quando vimos, nosso bebê não respirava.” Brigadianos levaram o recém-nascido ao hospital, onde foi atestada a morte. O laudo preliminar aponta causa indeterminada.
Imagens de câmeras de segurança mostram a briga entre os grupos rivais e depois brigadianos atendendo a família do bebê. Assista:
Dez poderão responder por homicídio culposo
Os sete homens e três mulheres identificados, todos moradores de Sapiranga, poderão responder por homicídio culposo. Foram liberados porque os policiais não encontraram armas nem projéteis no local da briga. “A conclusão do inquérito vai depender do laudo da necropsia”, observa o delegado. No Instituto-Geral de Perícias (IGP), em Porto Alegre, teria sido encontrado leite nos pulmões do bebê. No momento do pânico, para acalmar a criança, a mãe teria dado novamente o seio.
O industriário frisa que a morte do filho foi causada pela briga. “Estava tudo tranquilo. Eles aparaceram na rua e causaram essa tragédia. Quando forem depor na delegacia, com seus advogados, vão dizer que não tiveram culpa. Tiraram a vida do meu filhinho.” O delegado está atrás de novas imagens de câmeras de vigilância. “As que temos até agora não são claras. Estamos tentando melhores.”
Despedida do recém-nascido
Arthur foi enterrado na manhã desta segunda-feira no Cemitério Parque Municipal de Sapiranga. “Era nosso primeiro filho, a nossa alegria”, lamenta o pai. “Às 6 da tarde de sábado a gente tinha benzido ele com os padrinhos. Um momento de oração pelo sétimo dia. Poucas horas depois, ele se vai dessa maneira.”