Sobrevivente da Kiss, Jéssica Montardo Rosado, 33 anos, foi a segunda a prestar depoimento nesta quinta-feira (2), no Foro Central de Porto Alegre, no segundo dia de julgamento. Ela estava com amigos na boate, em Santa Maria, no dia do incêndio, em 27 de janeiro de 2013, e acabou perdendo o irmão Vinícius, de 26 anos, na tragédia.
"Meu irmão era a melhor coisa que tinha na vida, que tenho ainda", declarou, emocionada, a depoente, que segurava um terço e vestia uma camiseta com a foto do irmão. "O psicológico é muito abalado, isso mexe muito com a gente, a saudade é para sempre."
Naquela data, ela estava bem em frente ao palco, assistindo ao show da banda Gurizada Fandangueira, quando o fogo começou. Já havia estado outras vezes no local, já havia assistido à apresentação do grupo em outras oportunidades e, inclusive, conhecia um dos músicos. Disse que a casa estava costumava estar lotada.
A depoente, então, respirou e concluiu: "Vi quando jogaram garrafinha d'água, vi quando pegaram os extintores, até que eu vi o Marcelo [integrante da banda], quando ele botou o microfone no chão e gritou: 'Sai'. Eu virei as costas, me direcionei para a porta, voltei, tentei procurar o meu irmão, não enxerguei, tinha muita gente. Um menino me empurrou, disse que eu precisava sair, e eu fui. Esse percurso todo eu não lembro, só lembro da hora em que eu tropecei e caí entre as duas portas, e eu levantei, saí, parei na frente do estacionamento".
Foi somente ao sair da casa noturna que ela percebeu o tamanho da tragédia, conforme relatou: "Quando olhei para trás, me apavorei, era muita gente saindo, um por cima dos outros".
De imediato, contou a depoente, procurou ligar para os pais para comunicar que a boate estava em chamas e que seu irmão estava lá dentro. Chegou a tentar salvá-lo, mas não conseguiu. "Eu tentei voltar, não deixaram, me puxaram pelo cabelo." Horas depois, soube que o irmão havia sido levado ao hospital e, mais tarde, que havia morrido.
Jéssica disse que relatos dão conta de que o irmão teria salvado 14 ou 15 pessoas nas vezes em que voltou para dentro da boate para ajudar vítimas. "Não sei dimencionar a dor da minha mãe, a dor do meu pai. Meus pais hoje lutam e batalham para que eu viva bem, tranquila, numa cidade segura."
Depoimento previstos para o dia
Para o início da tarde, estão previstos os depoimentos da testemunha de acusação Miguel Ângelo Teixeira Pedroso e das vitimas Lucas Cauduro Peranzoni, Érico Paulus Garcia e Gustavo Cauduro Cadore.